quarta-feira, 30 de julho de 2008

Inaugurações de 1901 a 1950

Theatro Regina (1935)

Características físicas: ocupando a esquerda do térreo e os três pavimentos seguintes do Edifício Teatro Regina, fica ao lado de uma galeria, à direita da qual localiza-se o Cinema Orly.

Trata-se de um edifício de linhas modernas, de 12 andares, encimado por uma cobertura.

Fachada: sobre a fachada na época da inauguração nada se encontrou nas fontes pesquisadas. Segundo Pepa Ruiz – ex-atriz e administradora do Teatro Dulcina – “não houve alteração no frontspício”: assim é que, atualmente, na parte térrea revestida de mármore branco, fica a entrada principal, que se compõe de três portas metálicas de enrolar, sobre a qual aparece o nome Teatro Dulcina.

A partir do primeiro pavimento, a fachada sofre um recuo e, logo acima da marquise, estendendo-se por toda a largura do prédio, há janelas guarnecidas de vidro, com altura de mais ou menos um metro, que favorecem a iluminação.

A fachada, de concreto em quase toda sua extensão, apresenta seis faces, onde se lê, em relevo, o nome Regina.

Interior: o Jornal do Commercio, em sua edição de 5 de dezembro de 1935 – data da inauguração – comentando o coquetel que o proprietário ofereceu à imprensa, relatava sobre a sala de espetáculos: “E os convidados elogiaram com entusiasmo o bom gosto e o conforto a que tudo ali obedece”.

Mário Nunes, em sua obra, assim o descreveu: “A sala em linhas singelas é um portento de aproveitamento de espaço, bem dispostos, a platéia, camarotes e balcões. Decoração moderna, em cores mortas, lisas, luz indireta em tons cambiantes, criam atmosfera de satisfação visual”.

Inicialmente, o Theatro Regina não dispunha de aparelhagem especial para seu arejamento, tanto que Vivaldi L. Ribeiro, ao arrendá-lo ao SNT, em 1940, afirmava não se responsabilizar se “as autoridades públicas determinassem o fechamento do teatro por falta de refrigeração ou outro qualquer motivo...”

O Teatro Regina passou por reforma completa após o incêndio de 02 de julho de 1944.

Espetáculos: A peça “La banque Nemo”, traduzida por Geysa Boscoli como “O grande banqueiro”, abriu pela primeira vez as portas do Theatro Regina ao público: tratava-se de uma peça em 3 atos e 9 quadros em “luxuosíssima montagem devida a Colomb”.
Precedida de grande divulgação não chegou a constituir sucesso a peça de estréia, apesar de a tradução ser considerada “fluente e chistosa”.

O elenco foi assim anunciado: “A Cia encabeçada por Olga Navarro e Jayme Costa, e que conta com o precioso concurso de Palmeirim Silva, Plácido Ferreira, Olavo de Barros, Mathilde Costa, Mario Salaberry, bem como das novas e graciosas figuras de Tamar Moema e Clara Leone, além de outros artistas de valor...” (9)

Lotação: o teatro tinha capacidade para 447 pessoas, sendo 393 na platéia, 36 no balcão, 16 nos camarotes e 12 nas frisas, dados consignados na Ficha Técnica dos Teatros no Centro de Documentação e Pesquisa Teatral/MEC/DAC/SNT/MUSEU.

Vinculação: propriedade particular, era um empreendimento da Companhia Industrial Minas Gerais (Construção, Comércio, Indústria, Finanças), presidida pelo Sr. Vivaldi Leite Ribeiro que, em carta de 29 de junho de 1937, propunha arrendamento ao Ministério de Educação e Saúde.

Em 1940, o Theatro Regina, foi, então, arrendado pelo MEC, pelo prazo de quatro meses, ou seja, de 01 de agosto a 03 de dezembro desse ano, pela quantia de doze contos de réis, quando o Sr. Abadie Faria Rosa assumiu a direção do SNT.


Inauguração : 1935 .
Em 05 de dezembro.
O nome Regina foi mantido mesmo após o incêndio em 1944.
Espetáculo : O grande banqueiro . A peça original era intitulada "La banque Nemo".

Desaparecimento : 1946 . Em julho recebeu o nome de Teatro Dulcina. Causa de Desaparecimento : Nova denominação. Endereço : Rua Alcindo Guanabara, 17/21.

Teatro Dulcina (1946)

Características físicas:

O palco, cuja boca de cena media 7m de largura por 5m de altura, era provido de urdimento com 12m de altura. As coxias tinham 1m de largura; a profundidade do palco era de 8m e a avant-scène tinha 0,80m. A passarela media 10m de comprimento e 0,80m de largura. (Ficha Técnica dos teatros SNT – 11/12/78).

O teatro dispunha de 8 banheiros, sendo 2 destinados aos artistas e os outros estavam assim distribuídos: 2 nas galerias, 2 nos balcões e 2 na platéia.

O sistema de refrigeração, tempos depois, contava com uma chave a óleo para partida do motor de 60HP, além de uma chave de 30A para a bomba d’água e 2 chaves de 60A para os motores de ventilação de acordo com a Ficha Técnica do SNT de 1978.

Em 1981 foi iniciada uma nova reforma com o arquiteto Robson Jorge Gonçalves.

Espetáculos:

Em junho de 1946, Genolino Amado, que estreava como autor teatral, dizia: “ me alegra que “Avatar” se apresente na inauguração do Regina tão esplendidamente remodelado...” (18) E Odilon acrescentava: “Estrearemos dentro de dias com “Avatar” que é uma linda peça”. (18)

Uma peça moderna, em 3 atos, que foi inspirada num conto de Gauthier, segundo declaração do próprio autor. Do elenco, tendo à frente Dulcina-Odilon ele afirmava: “O elenco mais brilhante do Brasil, a expressão maior do nosso teatro”. (18)

Já como propriedade do MEC – Ministério da Educação e Cultura e sede da Companhia Dramática Brasileira, teve reabertura anunciada para agosto de 1977. (20)

O teatro não foi palco só de peças teatrais, pois ali a admirável atriz Conchita de Moraes, mãe de Dulcina, “em 29 de abril de 1950, recebia do governo brasileiro a Comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul como um tributo de admiração e agradecimento pelo que fez pelo teatro”. (4)

Em 1978, segundo relatava o Anuário da Casa dos Artistas, o Teatro Dulcina abriu “suas portas, às sextas-feiras, para apresentação do Projeto Pixinguinha, de incentivo à música popular brasileira, da Funarte”. (2)

Lotação: segundo registra a Ficha Técnica do SNT – em 1978 – a lotação era de 568 lugares: 110 no balcão; 4 nos camarotes; 4 nas frisas; 80 nas galerias; além de 8 cativas.

Vinculação: em 1945 passou a pertencer à Companhia Dulcina-Odilon que criava no mesmo ano a Fundação Brasileira de Teatro “com o objetivo de ensinar teatro aos jovens”. (20)

Em 1953 a Fundação Brasileira de Teatro (funcionou no 5º. andar do edifício Regina até 1977) dirigida por Dulcina de Moraes tornava-se proprietária do teatro. (7)

Em 1961, por meio de um contrato de locação, o Sr. Arthur Fomm alugou-o por um ano, para atividades artísticas, de 01 de julho de 1961 a 30 de junho de 1962 – pelo preço de trezentos mil cruzeiros mensais.

Em 05 de abril de 1977 o Teatro Dulcina “foi vendido ao Ministério de Educação e Cultura e ... a veterana atriz (Dulcina) entregou suas chaves ao diretor do Serviço Nacional de Teatro, Orlando Miranda” (20).

A partir de então, até a época em que foi fechado para reformas – dezembro de 1981 – o SNT cedia o Teatro Dulcina a companhia selecionadas por uma Comissão Julgadora. O período mínimo de ocupação era de oito semanas e máximo de doze meses, destinando-se 8% de renda ao SNT, de acordo com os Editais de 1977, que regulamentaram a concorrência para ocupação do teatro por companhias profissionais.

Características físicas: o teatro passou por reforma completa após o incêndio de 2 de julho de 1944. Mais tarde, em 1946, Dulcina e Odilon falavam das obras, em entrevista concedida à revista Comedia: “Tudo foi feito sob a competente direção do Dr. Celso Melo e, não só se procurou o conforto máximo para o público como vários elevadores, refrigeração, conforto mesmo de ambiente, dando à sala não somente ótimas poltronas, mas ornamentando-a de forma discreta e elegante, bastando dizer que só a cortina de boca custou Cr$100.000,00 como ainda se tratou do conforto do artista, dando-lhe o melhor que o edifício permite, como camarins etc...” (18)

As paredes, revestidas de estucamento especial, foram motivo de comentários. A aparelhagem de iluminação compunha-se de chave trifásica de 300A e chaves de distribuição para todo o teatro, além de um conjunto de resistência eletro-mecânica – com seis unidades e capacidade de 5.000W cada.

O teatro foi reaberto em março de 1984 com o espetáculo “Galvez, o imperador do Acre”, dirigido por Luís Carlos Ripper, depois de ficar fechado para reformas desde 1981.

Espetáculos: o teatro foi ocupado pelo grupo Os Fodidos Privilegiados de agosto de 1996 a junho de 2001, quando foi fechado.

Vinculação: o teatro pertence à Fundação Nacional de Artes – Funarte, do Ministério da Cultura, que o cedeu em comodato à Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.

"Prioridade é arrumar a casa", diz Antonio Grassi
Entrevista a Israel do Vale
03/05/2003

Teatros fechados, metade do número original de funcionários, menos de 18% do orçamento disponível para a atividade fim. Diante da situação em que se encontra a Funarte (Fundação Nacional da Arte, órgão vinculado ao Ministério da Cultura), a prioridade do seu novo presidente, o ator global Antonio Grassi, é arrumar a casa até o final do ano: colocar os equipamentos para funcionar, formar um quadro de funcionários mais adequado às necessidades da entidade e iniciar uma articulação com as demais instituições vinculadas ao MinC. Leia abaixo entrevista com o ator, para quem a Funarte é o ?braço executivo do Ministério da Cultura?.

Qual foi o quadro que você encontrou quando assumiu a presidência da Funarte? Fala-se que houve um desmonte absoluto.
Acho que a Funarte é um exemplo muito claro desse desmonte dentro do próprio Ministério da Cultura. Para se ter uma idéia, todos os teatros da Funarte no Rio de Janeiro estão fechados, todos. Esse esvaziamento veio acontecendo ao longo dos últimos anos e se evidenciou mais recentemente, até com o próprio sombreamento que o Ministério fez ao criar as secretarias temáticas.

Hoje há, por exemplo, uma Secretaria de Música e Artes Cênicas, ao mesmo tempo em que a Funarte tem a sua a coordenação de música, teatro, dança, circo... Tem a Secretaria do Livro e Leitura e a Biblioteca Nacional, com programas parecidos, então vira um duelo dentro do próprio governo _isso não tem o menor sentido. É uma coisa tão estapafúrdia que hoje o nosso secretário-executivo Juca [Ferreira] brincou que, quando ele recebe algum projeto, às vezes não sabe para onde mandar, porque é tanta área sobreposta...

Há quanto tempo os teatros cariocas estão fechados?
O Teatro Dulcina foi passado para a prefeitura em 2001, e continua fechado. O Teatro Cacilda Becker foi fechado no início deste ano, pois está com problemas de cupim. Este talvez a gente consiga reabrir logo. O Teatro Glauce Rocha também está fechado desde o final do ano passado. São problemas estruturais que têm a ver com reforma, verba, orçamento, e a gente está agora nessa batalha de pôr a casa em dia.

São quantos teatros no Rio?
No Rio tem o Glauce Rocha, o Teatro Duse, que é a casa Paschoal Carlos Magno, o Teatro Cacilda Becker, o Teatro Dulcina, a Escola Nacional de Circo, a Aldeia de Arcozelo. Tem também o Centro de Documentação, Centro Técnico de Audiovisual e Centro Técnico de Artes Cênicas e o de Preservação Fotográfica. Além disso, tem o Museu do Folclore e alguns programas especiais como o Arte Sem Barreiras, para deficientes físicos.

Em Brasília, nós temos a sala Plínio Marcos, que é um teatro maravilhoso que precisa ser acabado _ não tem equipamento de luz ainda_ e a Sala Funarte, que nós estamos transformando em Sala Cássia Eller, pois foi lá que ela começou a carreira. Em Brasília tem um movimento de rock muito forte e a gente integrar a Funarte também com a produção local.

Qual o orçamento da Funarte?
O orçamento deixado pela gestão anterior é de R$ 28 milhões, sendo R$ 15 milhões para pessoal e encargos, R$ 8 milhões para a área meio (conservação, elevador, vigilância, etc) e R$ 5 milhões para a área fim.


São quantos funcionários no Brasil todo?
A Funarte, que tem na sua origem quase 700 funcionários, hoje tem 357. Há um déficit de servidores porque durante esse período não houve concurso público para substituição desses quadros, foram proibidas as contratações e também os estagiários deixaram de existir. Então, hoje os funcionários estão numa faixa etária acima de 45 anos, quer dizer, a Funarte é uma instituição que está ficando velha. Então, nós precisamos injetar um gás, trazer de volta os estagiários, pensar em abertura de concurso público, com um plano de carreira _ não dá para fazer concurso em aberto para servidores públicos.

Contratar mais gente não é comprometer mais ainda a verba que já é pequena?
O remendo que vem sendo feito é, por exemplo, a terceirização. Então, contratam através de licitação um grupo de servidores para determinadas funções. Assim vinha sendo feito.

Qual a sua prioridade hoje na Funarte?
Acho que a prioridade mesmo é tentar arrumar a casa em todos os sentidos, tanto no caso dos servidores como dos equipamentos culturais. E também no sentido da reestruturação do Ministério com as vinculadas (instituições ligadas ao MinC, como o Iphan, a Biblioteca Nacional e a Casa Ruy Barbosa) e da recomposição das instituições. Eu tenho pressa. Nós temos equipamentos importantes e quero ver se conseguimos coloca-los em condições mínimas de funcionamento até o final de 2003.

Tem alguma área que precisa ter uma ação privilegiada?
No caso da Funarte o esvaziamento foi em bloco, e eu acho que tem que ser tudo [de uma vez]. A Escola Nacional de Circo da Funarte hoje atende até o Circo de Soleil, que vem aqui, faz audição e leva artistas para lá. Estamos tentando fazer um trabalho integrado com a Bolsa Escola, do Ministério da Educação, colocando o circo dentro do Bolsa-Escola. E acho que nessas parcerias a gente pode conseguir alguma coisa.

Quanto tempo isso vai levar?
Já estamos fazendo alguns programas. Vamos lançar um DVD feito pelo Ctav (Centro Técnico Audiovisual), a custo zero, do Assalto ao Trem Pagador, que foi um marco importante do cinema brasileiro.

Você vê a Funarte conceitualmente como um espaço para gerar reflexão, para produção de eventos ou para recepção de eventos de produtores terceiros?
Basicamente, um espaço que pode proporcionar a reflexão e também a produção da área finalística do Ministério. Eu vejo a Funarte como o grande braço executivo do Ministério da Cultura. O que aconteceu durante esse tempo todo é que ela foi meio que desmembrada do Ministério. Ela é vista até pelo próprio Ministério como alguma coisa de fora.

Mas essa autonomia não é boa?
Essa autonomia favorece a sua agilidade prática, mas ao mesmo tempo deixa o Ministério aleijado, porque a Funarte é um braço dele e para ela é importante que poder executar as políticas públicas do MinC.

Como você espera resolver essa sobreposição?
Na reforma estrutural que nós estamos trabalhando no Ministério, vamos ter que trabalhar essa questão já. A reforma deve ser consciente, conseqüente, mas tem que ser rápida. Não dá para continuar convivendo com o Ministério da forma que está.

O que deve mudar com a reestruturação do MinC?
Principalmente a extinção das secretarias temáticas. As secretarias seriam de formulação, o que fortaleceria a ação das vinculadas. Todos esses órgãos ganhariam mais força se não existisse tanta sobreposição.

A conversa com o ministro Gil neste sentido já vem sendo feita?
Já. Nós avançamos bastante. O próprio Gil foi quem deu o pontapé inicial no trabalho de reforma e já estamos trabalhando bem avançado nesse sentido. O Ministério do Planejamento parece que já aceitou e isso passa pelo Congresso. Está dentro do pacote de reforma do Ministério, da Medida Provisória 103.

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